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É possível separar completamente a vida pessoal da profissional?



Na minha atuação como Psicóloga dentro das empresas, atendo muitos profissionais e líderes que expressam a tentativa de separar a vida pessoal da profissional, como se fosse possível deixar partes de si mesmo em casa ao cruzar a porta de casa para ir ao trabalho.

 

Eles acreditam que ao vestir a "persona profissional", podem esquecer dos desafios pessoais — sejam eles familiares, financeiros ou emocionais. Contudo, raramente escuto relatos de sucesso dessa tentativa e de quem conseguiu deixar o estresse no trabalho ao voltar para casa. Não sabem que o estresse corre pela corrente sanguínea, através da liberação do cortisol que afetando todo o funcionamento do nosso corpo por mais de 8 horas.

Essa estratégia cria, muitas vezes inconsciente, surge como uma defesa disfuncional para lidar com as exigências da rotina, mas falha em sua execução no mundo real. Essa estratégia parece ser adota para produzir mais e evitar o máximo o sofrimento como, por exemplo o burnout.

Embora na vida real essa estratégia não é obtida com sucesso, na ficção essa realidade é posta na série Ruptura da Apple TV+, que desafia nossa visão sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Na trama, os funcionários de uma empresa, no processo de admissão, escolhem passar por um procedimento cirúrgico que separa completamente suas memórias pessoais e profissionais. Eles literalmente se tornam duas versões de si mesmos: uma que só existe no trabalho e outra que nunca lembra da rotina corporativa.

Se Carl Gustav Jung, precursor da Psicologia Junguiana, estivesse vivo, ficaria perplexo com essa ideia contrária ao seu modelo de individuação e integração das partes que habitam em cada um de nós, seres humanos. Afinal, a série desafia o reconhecimento de que somos seres constituídos por múltiplas experiências, emoções e vivências que se conectam para formar quem realmente somos.

Essa provocação nos leva a refletir: será que a tentativa de "desligar" nossa vida pessoal no trabalho poderia aumentar a produtividade ou evitar o burnout? Ou estaríamos sacrificando nossa criatividade, inovação e empatia, que dependem justamente da soma de nossas vivências pessoais e profissionais?

Além disso, Ruptura expõe uma dura realidade do mundo corporativo: a desumanização que muitas vezes ocorre em nome da produtividade. Em tempos em que se fala tanto de saúde mental e cultura organizacional com foco no bem-estar, será que estamos realmente caminhando para um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal ou apenas revestindo antigos problemas com novas palavras?

Assistir à série não é um valioso convite para olhar para nossas próprias práticas e crenças sobre o trabalho e a vida. Até que ponto estamos buscando equilíbrio ou nos escondendo atrás de estratégias disfuncionais e inconscientes que ignoram nossa essência como indivíduos? Talvez a grande lição de Ruptura seja perceber que somos mais criativos, inovadores e resilientes quando integramos — e não separamos — as múltiplas dimensões de quem somos.

E você, tem conseguido conciliar essas partes da sua vida? Ou será que, assim como na série, está se dividindo em "duas versões" de si mesmo? 

Deixe aqui nos comentários o que você pensa sobre esse tema.

Autora: Camila Roxo | Psicóloga, Professora e Mentora